sábado, 8 de março de 2014

Ensaio de pontos

Há dias em que o sol nos desperta com reticências, sem frases objetivas e com caminhos pontuados. Quando a estrela se impõe, revela miudezas que enxergamos gradativamente, com o passar dos anos. Em dias ofuscantes, pouco compreendemos o que veio, tampouco sabemos como lidar com o que há de vir. A gente dança conforme a música. A gente encanta conforme o brilho. A gente ama conforme o enredo. A gente alcança onde a onda bate. Numa corrida pro fim, um mês colorido chega, com sinais de boas novas, com sinais de recomeço, com sinais de esperança. Cada fim é começo. Cada dia, um presente. Cada estação, uma nova alegria. Muitas folhas caíram para brotar flores. Muitas noites silenciaram para reverberar as manhãs. Muitos dias chegaram e partiram, deixando o lado bom, deixando o que deveria ficar. São breves intervalos, entre aspas ou não. Exclamações que valem qualquer gracejo de questionamento. Uma certeza virgulando a rima de ser, sem brecha para orações subjetivas. Aqui, o sujeito tem um jeito manso, devagar, que é pra eternizar o vento que sopra. Leve como um suspiro de pássaro, um querer pausadamente, uma água que mata a sede e o calor dos dias quentes. Umidade para lavar a alma. Humildade para enfrentar os dias. Calmaria com recheio de felicidade, por ter vontade, por ter saudade.
Por mais que a vontade chegue, as palavras não me desenham. Elas percorrem as curvas que a música faz. Só me entendem com ritmo. Sem partes quebradiças, sem arestas envolvidas, sem pesar nem recuar. Aqui, o mundo grita silencioso, em dó menor. De vez em quando, vem um sol, lindo. Já disseram que o sustenido provoca mais. E eu não sei dizer o que traz movimento. De noite, uma letra pula na outra, como se não desse trégua para o descansar. Invadem a madrugada e escolhem os melhores lugares para esconder o que tem para ser dito. Só desliza com a harmonia das notas, dos tons, do aveludado da voz que embala o sono. Sempre forcei textos. Insisti cores e sabores. Cai. Segurei em cordas e batuques, para sentir a gravidade do agudo. E mesmo que seja apenas sentir, ele embala. E dança. Desisti. Vão seguindo os passos, os acordes, o sufoco de um baque prum coração destemido, apaixonado. E se a gente é, de fato, feito de verdade, essa é a minha. Letra e melodia, como as dualidades devem ser.